α ℓιттℓє ριє¢є σf нєανєи

E a musica aprofundava-se em nossos ouvidos, quebrando qualquer vestígio de silencio que pensasse em coexistir naquele ambiente. Enormes tecidos cor de vinho deixavam-se cair sob bastões e cordas invisíveis. Decoração perfeita!
“Impecável”. Janelões de vidro cercavam todo aquele salão, como um aquário. Galhos secos, de arvores de outrora, arranhavam sem parar os vidros fazendo um barulho sinistro se seu ouvido se aproximasse demais.
Máscaras, algumas de uma delicadeza inigualável, outras esculpidas em traços grosseiros, porém todas tinham algo em comum: cobriam todos os rostos, falsos ou verdadeiros.
Com uma rosa na boca o cavalheiro, cautelosamente, curva sua dama. A rosa, tão vermelha quanto o vestido da mesma, quando é ofertada faz chorar uma gota de sangue do dedo da dama mascarada.
Uma mão estendia-se diante de mim, enquanto o misterioso rapaz curvava-se. “Concederas a mim o direito de vossa dança?”. Os cachos do meu cabelo voavam com o pouco vento vindo da janela próxima, mãos cobertas por uma fina luva branca, silencio. Convite aceito.
Era meia noite, quando ele já fazia meu vestido confundir-se com as cortinas. E com um gesto rápido, de um vestido fino o fez comparar-se perfeitamente a um esporte.
Os restos do tecido caiam suavemente junto ao seu terno no chão. Com movimentos sincronizados as mascaras foram tiradas. Mel era derramado naquele ambiente, romantismo secreto que fora despertado a base de beijos. Eu ouvia as palavras proibidas que faziam aquele salão ficar mais quente a medida que a lua fugia das nuvens.
Não demorou muito, as cortinas foram esquecidas e meu vestido transformou-se em toalha. O pequeno vaso derramava uma a uma as mais belas rosas e da antes cristalizada mesa de jantar, uma maçã vermelha toma a frente todos aqueles desejos.
Desejos criados e sentidos por ambos, enquanto sua mão descia pela minha cintura à medida que a musica ia ficando cada vez mais longe. 23:59; um misto de romantismo e ironia brotavam daqueles sorrisos mascarados.



Priscila Rodrigues de Oliveira, 24 de abril de 2009

∂єѕαмσя αмαитє

Vermelho
Das toalhas manchadas,
Dos copos virados,
Bagunça.
Vermelho sangue,
Das vidas opostas,
Das rosas desfloradas
Do rastro de lagrimas
Dos amantes, não mais enamorados, liberdade
Dos ainda enamorados, o vermelho
Dos sentimentos vazios,
Dos sonhos ensangüentados.
Separação,
Doce vermelho da dor.
Priscila Rodrigues de Oliveira, 23 de abril de 2009

υℓтιмαѕ ραℓανяαѕ

“Vamos pai! Mais rápido! Quero encostar nas nuvens.”
O sol estava tão quente que poderia queimar ate um cubo de gelo. Todavia, quando me adentrei naquele parque, alem de tropeçar na calçada; reparei e fiquei nostálgica com aquela cena. Vamos ver se consigo descrevê-la:
Um pai aparentemente jovem, claro poderia já não ser tão jovem, mas que parecia isso eu não poderia negar; empurrava lentamente o balanço onde uma garotinha estava sentada.
Aquela cena era tão familiar pra mim, há alguns anos atrás era eu quem estava naquele balanço com o meu pai. Estamos brigados durante dois meses, e não nos falamos durante esse mesmo tempo.
Os dois, pai e filha, já estavam na grama; Ele, arrumando a toalha do piquenique, e ela correndo com uma coisa na mão, não consegui identificar, ate o momento em que ela tirou um palitinho e assoprou no mesmo.
Formas perfeitas, se não soubesse diria que haviam sido feita por algum mestre no assunto, e mesmo se soubesse já que eu não entendo nada de bolhas de sabão, afinal as minhas sempre estouravam no meu rosto fazendo arder meus olhos. Em pouco tempo todo o alcance de minha visão estava completamente lotado dessas bolinhas, as mais lindas conseguiam ficar bem enfrente ao sol e quando estouravam o brilho era inacreditável.
Distrai-me, confesso, ver tudo aquilo me fazia querer chorar.
A menina veio ate mim pedindo-me para assoprar um pouco para que ela pudesse pular e estourar. Ficamos um bom tempo ali, minhas bolhas patéticas e o sorriso dela quando uma delas estourava no meu rosto. Ate que seu pai nos chamou para comer.
“Não obrigada, acho que tenho que ir jogar xadrez com um velho amigo”
Mentira, meu pai odeia xadrez, porém ama filmes de luta. Eu odeio ver tanto sangue falso sair daqueles atores, mas definitivamente precisava falar com meu pai.
Como deixei tanto tempo passar? Tanto tempo perdido, por besteiras, brigas infantis. Bem pai, quando fui naquele dia na nossa casa a mãe estava chorando, ela correu ate mim e disse que perderíamos o senhor, que seu coração já não era o mesmo e que não haviam encontrado doador algum.
Senti minhas forças fugirem de mim; eu estava ignorando ligações daqui de casa durante esses últimos meses, e agora, o senhor iria morrer. Sai desnorteada pelas ruas de fronte a nossa casa, não reparei que estava vindo um caminhão.
Os dias que se seguiram foram os piores de toda a minha vida, pai. Não pelo estado em que eu fiquei, mas por não poder me levantar nem mexer um dedo para ir ate o senhor. Perdoe-me, sei que fui uma filha sem muito do que se orgulhar, mas me orgulho disso que fiz. O médico avisou-me que eu iria morrer em alguns meses. Nunca vi a mãe daquele jeito, iria perder nos dois, então espero que entendam que isso foi a melhor decisão.
Não cheguei a vê-lo bem, e muito menos vendo aqueles malditos filmes que me deixavam com ânsia, mas quero que saibas que o que fiz foi por que o amo pai, e amo a mãe também.
Não quero que vocês chorem agora, eu já tomei essa decisão e a fiz, lembrem-se mim como aquelas bolhas de sabão que fazíamos naquele parque.
Eu te amo, não se esqueça.
Adeus querido pai.

Priscila Rodrigues de Oliveira, 21 de abril de 2009

¢αиçãσ ραяα αℓgυєм

E o vento – e apenas ele-
Contemplava o choro de um violão,
Notas flébeis e desfolhadas. O que fará coração?
Natureza já adocicada,
Triste clima de outono.
Chovia leve, pétalas e folhas,
Criando uma aura em torno de ti,
Oh! Doce apaixonado! ...
O sol já te cobria a face,
A penumbra escondia seus olhos; e suas notas,
Como navalhas, decepavam uma a uma as folhas de um ipê.
Conseguiras fazer chorar esse podre violão eternamente?
O gélido inverno já te arrepiava o coração,
Sentia seus dedos frios libertarem aquelas notas ainda flébeis.
Oh! Amor, como és tão cego,
Amas ainda com os olhos cobertos.
Priscila Rodrigues de Oliveira, 16 de abril de 2009

нσנє, ѕєм тєχтσ мєυ

"Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
as vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze - quanta flor! -do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos? "
Camilo Pessanha (1867 - 1926)

Aula de literatura: clima chato com "zumzumzuns" de alunos desinteressados. Em certos momentos eu era um deles, mas me interessei pela vida de Camilo...

Camilo de Almeida Pessanha, bem ja que vou ter que fazer a prova do vestibular, por que não ler suas obras. Como grande parte dos poetas daquela epoca, ele morreu de tuberculose, nossa! porque todos morriam de turbeculose? Colocar sangue pela boca não me parece nada romantico.

-Jô! ele era casado? Indaguei.

- ts ts ts

É, um poeta solitario, provavelmente não leria nenhum poema dele dedicado à alguma senhora Pessanha.

Não vou dar uma aula de Literatura aqui não é. Bem, vou resumir já que ainda não terminei de escrever meu proximo texto.

Escolhi esse poema de Camilo por que simpatizei rapidamente, não sei por quê mas, algo me chamou atenção...

Ah! Em relaçao ao titulo do poema..eu não achei, quer dizer, encontrei como "Floriram por engano as rosas bravas", se estiver errado por favor, corrijam-me.

Todavia, ele foi publicado na obra mais famosa de Camilo, Clepsydra.

Agora, vou terminar o texto que estava escrevendo, amanha o posto aqui. Ou hoje a noite, se der tempo.

вℓσσ∂

Naquela cidade nada real, tudo era impossível, inacreditável...
O vermelho pingava exageradamente sobre aquela relva escura e suja, o jardineiro já fora morto mês passado.
Só se ouvia gemidos de dor, de sofrimento, mas de que adiantaria, querida?
Era tão obvio, você seria morta. Mais uma da interminável lista daquele mercenário. Então não grite, mocinha, sorria; Morra feliz ao menos.
O Sorriso do assassino brilhava, como uma estrela em um céu impecável. Suas mãos abaixavam aos poucos, e aquele dementador fumaçava ...
Mocinha, deite-se e o deixe levar sua alma. A palidez esta imperando, você não vê? Irá morrer como todos os outros, afinal seu sangue já cobriu sua blusa inteira. Olhando pra você recordo minha infância, nesse momento a historinha da Branca de neve não sai de minha mente. “e o vermelho se destacava na neve branca”
Com passos contados, e friamente calculados, ele se aproxima e te olha nos olhos. “Irá demorar muito?”. Você cai, chora, ele sorri. Que sarcasmo exagerado!
Não lhe disse, mocinha? Morreu como todos. Seu sangue sujou aquele já imundo jardim, me diga agora, quem vai limpar isso?
Mas que cidade surreal, o mercenário agora aponta pra sua cabeça. Será que morrer também?
Nossa! Que estrondo, nem os pássaros agüentaram ficar naquele cemitério!
Bem, eu avisei...
Risos.
Adeus, Romeu e Julieta.

Priscila Rodrigues de Oliveira, 14 de abril de 2009

αρєиαѕ мαιѕ υмα нιѕтσяια ∂є тєαтяσ

Ela sorria e o olhava, enquanto ele dedilhava naquelas teclas endurecidas de um piano de séculos atrás, a melodia mais doce do mundo, a melodia que a fazia chorar – deveria pelo menos.
Aquele som ecoava pelo salão antigo, onde somente os dois e aquele velho piano se encontravam, e por um pequeno vidro no canto esquerdo apenas um feixe de luz fugia do exterior e incidia em uma, ainda viva, flor sob o piano.
Todavia o rosto do pianista apaixonado se enrijeceu; seus dedos, que antes tocavam, foram usados para derrubar aquela flor. E com um gesto rude e triste abaixou a tampa e retirou-se.
Ela, ainda encostada no piano, deixava cair inúmeras lagrimas que faziam seus olhos, antes cor de mel, avermelharem-se.
Junto com a luz se esvaecendo, as cortinas caiam. Fim do espetáculo.
Será mesmo? Abrindo uma brecha nas cortinas cor de ruby, um homem de terno escuro dirigiu-se a ela – é, era apenas uma solidão ilusória. Ambos estão encostados agora no piano, ela ainda chorando e ele com a mão estendida, e sob a mesma um lenço de renda branco.
E isso, leitor, foi apenas o que eu vi naquele fim de tarde em uma sala de audições esquecida.
Priscila Rodrigues de Oliveira, 10 de abril de 2009

¢нá ∂αѕ ¢ιи¢σ


Porcelas riscadas e extremamente limpas,
arranhar de um pires.
Tic Tac.
Poltronas de outrora,onde um gato gordo e nostalgico estira-se.
Tic tac.
Olhos travados numa superficie transparente.
expectativa.
Tic tac.
cinco horas.
Os Ingleses são realmente tão previsiveis?
Ora ora, maldito chá das cinco.

qυαи∂σ νσ¢ê ναι ємвσяα

E ela fora estendida na estante, e arrumada como que se lá fosse ficar eternamente.Ela já previa onde tudo isso terminaria, onde pararia; já que mesmo aquela boca, teimosamente dizendo que a amava, mesmo andando de mãos dadas, sorrindo com ela, dividindo momentos, seria apenas uma fase, algo momentaneo. Todavia, não para ela.
Que boneca burra e masoquista!* Teima em amar alguem que nunca sera seu.
E tudo fica assim, ela na estante amarrada num fio de esperança, como uma marionete com vida. E o pó, acumulado em seu vestido, brilha sempre que o sol, timidamente, a tenta ofuscar.

"Como um brinquedo velho" - diz me ele.
"Sim, meu caro, como mais um brinquedo empoeirado naquela estante" - lhe respondo.



*frase baseada em "crepusculo".

мαιѕ υм ∂ια...


Os primeiros raios de sol incidem naquele penhasco, no qual eu estou de pé, sozinha. Respiro calmamente agora, estou a poucos passos, minha tentação. Minutos, horas, por que acabar com tudo agora?
Quando eu estava naquela estrada à meia noite, só pensava em um caminho, e o seguia. Quando vi aquela placa “Não ultrapasse”, minha vida se estagnou, para onde iria?
Oh Deus! As folhas do meu Outono já não vejo brilhar, não sei por onde seguir, por onde andar...acho que não sei amar.Deus me diga, por favor, adiantou quebrar minha barreira?
Esse maldito penhasco me parece agora à oferta mais generosa, mas por que acabar com tudo isso agora?
Querido Deus, já vejo a noite cair, atiro-me?
Desculpe, eu não posso, desisto. Adiantou quebrar nossa barreira, afinal?
Enfim,
sento na beira desse penhasco, e choro enquanto vejo as estrelas brilharem só pra mim.

αqυєℓα gαяσтιинα


A manha estava fria, propicia para um futuro resfriado, mas era de se esperar depois de uma nevasca. Todavia um pequeno grupo trabalhava animado retirando a neve de fronte as suas casas.
Não tardei muito para levantar, tomei a mão meu casaco e desci as escadas preguiçosamente, definitivamente aquele frio afetou-me. Por sorte era feriado, tratei de engolir rápido aquela fatia de bolo que minha mãe fizera na noite anterior, para fazer minha rotina de feriado: andar sozinha por ai com meus fones. Porem algo me dizia que aquele feriado de inverno não seria um feriado comum.
Calcei minhas botas brancas, que em conjunto com minha roupa, me fazia passar por um poodle naquela paisagem. Caminhei pelo que antes era o parque mais dourado que havia visto – graças ao outono, particularmente a época que mais gosto.
Fui seguindo a trilha que já gravara há anos e me deparei com uma garotinha, chorando embaixo de minha árvore favorita. Tomei a liberdade e sentei-me ao seu lado e a fiz inibir o choro, desculpei me, ela olhou me com os olhos vermelhos e me perguntou:”Você gostaria de ser livre?”.Assustada, respondi afirmativamente.Nesse instante ela sorriu e disse:”A liberdade todos têm, o que a prende é o quanto você é capaz de sonhar e de sofrer por algo que acredita”.
Dito isso, ela entregou-me um broto de rosa vermelha banhado com suas lagrimas antigas. A fração de segundos, que retirei os olhos dela, a fez sumir. Olhei de volta para o broto e sob ele uma borboleta dourada com pequenos flocos brancos encarava-me atentamente. O broto em minha mão secava aos poucos e com isso ia desabrochando. Não demorou muito, o broto já era rosa e de dentro dele uma ultima gota de lagrima correu das pétalas a neve e aquela borboleta seguiu rumo ao sol.
Fiquei meia hora vidrada naquela rosa, que se destacava em meio ao branco gélido do inverno, tentando acreditar naquilo.
Nossa, que dia! Cuidei de ajuntar meus fones e tomar o rumo de casa. Refleti enquanto afundava minhas botas na neve fofa. Chegando a casa as tirei e olhei novamente para a rosa, sorri.
Hoje costumo dizer que a garotinha da neve, com uma rosa, ensinou-me que não há felicidade sem dor, e o que afasta seus sonhos da realidade é o quanto você pode aguentar sofrer por eles sem deixar de acreditar nos mesmos.