qυα∂яσѕ мαи¢нα∂σѕ

E em meus quadros manchados, derramei-lhes o azul
–um celeste–
para dar aos meus sonhos um céu.
Priscila Rodrigues de Oliveira, 20 de agosto de 2009

Sαтιѕfαçãσ







Tємρσ "α¢нα∂σ"

- Seria a contra gosto, ora pois, se seu indefectível relógio de bolso parasse de bater?
- A aflição lhe corroe, caro amigo? Felizmente para mim, meu sutil relógio não responde as vontades do senhor.
- Permita-me então doutor, uma breve sugestão?
- Por que não?
- Sugiro-lhe que engula esse doce relógio, se assim desejais, e deixe-me em paz.
-Ora, quem pensas que és para proferir tais palavras a mim?
- Ninguém com tamanha importância assim, entretanto cansado de suaves tic tacs.
* Crash * E assim o senhor do tempo rebaixou-se a um simples senhor de bulhufas.

Priscila Rodrigues de Oliveira 8 de agosto de 2009

иυмα ¢ι∂α∂є αℓєαтσяια...

Aquela corda circulava pelos dedos do menino acariciando-os tão negativamente, o rosto da criança transformou-se em um sutil quadro da aflição que banhava-lhe. Por que se desfazer de algo tão intimo que dava tanta alegria?
O quão era grande a vontade de criar asas para seguir o doce amigo – que por sinal, não duraria mais de um dia, entretanto para que diríamos algo tão duro a uma criança que mal deixou as fraldas?- que teimava em seguir.
Seguir ate onde os pequenos dedos daquela criança nem sonhavam em chegar. A separação foi eminente e suas lagrimas também. Todavia esta foi cessada pela sutil voz de sua mãe.
- Te comprarei outro, meu bebê.
Como se uma amizade fosse tão facilmente posta à venda.


Priscila Rodrigues de Oliveira, 7 de agosto de 2009

мσиóℓσgσ

Por que teimas vir a mim amor tolo e doentio?
A blasfêmia e a ignorância já não te escureceram a face?
Os anjos calam-se defronte ao destino que se segue,
A incerteza te inunda os pensamentos e quebra a barreira de seus frágeis olhos.
Seu rosto já se encontra molhado e seu coração grita pelo sangue de outrora.
Dar-te-ei um lenço -como se suprisse – entretanto, sua dor e vida serão arrastadas pelos blocos úmidos daquela rua conhecida.
Que comparação sublime!
Sua esperança é como o ar, infantilidade.
Por que não te deixas cair de uma vez nesse desespero malgrado?
A perdição talvez seja o melhor caminho.
Doce ou amargo, coração?
Priscila Rodrigues de Oliveira, 4 de junho de 2009

Aniversário..um dia comum

17 anos...
O estranho é que não parece, me sinto como uma criança que espera ansiosa e nem um pouco hesitante pelo primeiro presente embrulhado em um fitilho retorcido vermelho.
O dia começou como todos os outros, com bastante neblina por sinal, mas era de se esperar já que eram cinco e meia da manhã. Levantei-me preguiçosamente me empurrando da cama quente, enfiei a mão por trás da porta para buscar algo semelhante a minha toalha.
Todos ainda dormiam, levei um dia para chegar ao banheiro- tudo bem não foi um dia, foram alguns segundos, mas eu estava com tanta preguiça que pra mim foi mais de anos- tomei meu banho e me arrumei, mamãe veio pelas sombras do nosso apartamento e me deu um susto que quase me mata no dia em que nasci; Ela me abraçou e me disse “Tenha juízo garota, já não es mais uma criança”. É já não sou mais, mãe...
O dia se seguiu, na escola foi a mesma coisa, “parabéns, seja feliz, tenha muitos anos de vida” a mesma fala batida que sempre escutamos nesse dia.
Não é que eu não estivesse animada; tudo bem... Eu realmente não estava, mas estava feliz. Com um pouco de medo também, eu já não era mais uma criança.
Quando cheguei em casa liguei meu computador e fiquei escutando musica enquanto arrumava meu ursinho branco que ganhara da minha melhor amiga; Vovó ligou logo após o almoço, como em todos os meus aniversários, sussurrou baixinho parabéns pra você, e enquanto ela cantava eu pensei que queria escutar essa voz e essa musica em todos os meus próximos aniversários, isso sempre me fazia sorrir mesmo que eu não fosse a animação em pessoa; depois daquele sussurro eu me sentia a menina mais feliz do mundo.Quando desliguei o telefone senti escorrer as lagrimas que eu poupava o dia inteiro.
Corri para o meu quarto e me deitei com a cabeça pra baixo na cama, fiquei encarando a janela vendo as folhas das palmeiras defronte de casa sacudirem-se com o vento que também batia em meu rosto, vi uma borboleta perambulando para lá e para cá fazendo sabe deus o que.
Eu sorri.
O Nick veio batendo suas patinhas no assoalho e empurrou minha cabeça para que eu lhe desse um pouco de atenção, nunca vi um cachorro tão ciumento.
Acordei daquele transe com mamãe me chamando, acabo de ganhar rosas, nossa não escondo, aquilo me deixou estática, meu amigo é com certeza louco.
Agora vou esperar ate a noite, onde meus parentes vão cantar mais parabéns para mim, essa parte será, confesso que bem estressante. Não simpatizo muito com parabéns para você dirigido a mim que não seja com a voz da minha avó.

є¢ℓιρѕє

“Será que terei problemas futuros se olhar por muito tempo?”
“Creio que sim, amor. Afinal o sol faz isso com nossa vista, não é?”
“Tens razão... -deu de ombros- mas eu não me importo, não o vejo há tempos.”
O vestido branco dela contornava perfeitamente as pequenas curvas de seu corpo, e se espalhava pela grama impecavelmente verde, a qual ela estendia-se. Seus cabelos, jogado na mesma, possuíam pequenas folhas brincalhonas que teimavam em se esconder quando seu melhor amigo as tirava de vez enquanto.
Ele, com uma calça jeans surrada e uma blusa de manga bege, encontrava-se deitado ao seu lado, enquanto ela se perdia nos pequenos raios do sol. Ele estava satisfeito, dias atrás ela estava perdida em um lugar nada claro e nem tão pouco quente.
Olhava-a como se pensasse satisfeito: “é assim que eu a quero, feliz novamente, não seguindo o mesmo destino que o meu.”
Mesmo eu não sabendo como isso tudo começou, conseguia ler em seus olhos, ela não o iria deixar seguir por aquele destino sozinho. Ela não via toda a luz do sol, mesmo estando quase sendo cega pelo mesmo, ela tinha sua lua particular. Seu coração não era um quente sol, nem uma misteriosa lua... Era um eclipse.
Tudo bem, pelo visto, ela não se incomodava nem um pouco. Eles se olharam e ela sorriu e deu de língua, mas um pequeno feixe de sol acertou em cheio seus olhos e a fez fechá-los imediatamente, ele riu. Ele riu aquele sorriso que ela gostava, aquele sorriso alto e desengonçado que só ele sabia dar, aquele sorriso que a fazia querer sorrir, o mesmo que a fez rir enquanto ela chorava.
Eles sabiam que vida era difícil, sabiam que o que eles queriam era também, mas por que ela iria apagar o sol? Ela gostava do eclipse, e agora ela sabia que ele estava no lugar nada claro e nem quente que ela se encontrava há alguns dias.
Mas seus olhos eram realmente claros, ela queria ser seu sol particular enquanto ele só tem a lua. Bem, ela não seria um bom sol e eles sabem o porquê, mas ela queria deixar sua vida mais clara como ele deixou a dela. No futuro, talvez, eles não sejam dois sois, mas acredito que dois eclipses seriam o bastante.


Priscila Rodrigues de Oliveira, 23 de maio de 2009.

Dedico esse texto a um amigo, que me tirou de um lugar nada claro e nem tão quente que eu me encontrava há alguns dias. Obrigada Stef.

α ℓιттℓє ριє¢є σf нєανєи

E a musica aprofundava-se em nossos ouvidos, quebrando qualquer vestígio de silencio que pensasse em coexistir naquele ambiente. Enormes tecidos cor de vinho deixavam-se cair sob bastões e cordas invisíveis. Decoração perfeita!
“Impecável”. Janelões de vidro cercavam todo aquele salão, como um aquário. Galhos secos, de arvores de outrora, arranhavam sem parar os vidros fazendo um barulho sinistro se seu ouvido se aproximasse demais.
Máscaras, algumas de uma delicadeza inigualável, outras esculpidas em traços grosseiros, porém todas tinham algo em comum: cobriam todos os rostos, falsos ou verdadeiros.
Com uma rosa na boca o cavalheiro, cautelosamente, curva sua dama. A rosa, tão vermelha quanto o vestido da mesma, quando é ofertada faz chorar uma gota de sangue do dedo da dama mascarada.
Uma mão estendia-se diante de mim, enquanto o misterioso rapaz curvava-se. “Concederas a mim o direito de vossa dança?”. Os cachos do meu cabelo voavam com o pouco vento vindo da janela próxima, mãos cobertas por uma fina luva branca, silencio. Convite aceito.
Era meia noite, quando ele já fazia meu vestido confundir-se com as cortinas. E com um gesto rápido, de um vestido fino o fez comparar-se perfeitamente a um esporte.
Os restos do tecido caiam suavemente junto ao seu terno no chão. Com movimentos sincronizados as mascaras foram tiradas. Mel era derramado naquele ambiente, romantismo secreto que fora despertado a base de beijos. Eu ouvia as palavras proibidas que faziam aquele salão ficar mais quente a medida que a lua fugia das nuvens.
Não demorou muito, as cortinas foram esquecidas e meu vestido transformou-se em toalha. O pequeno vaso derramava uma a uma as mais belas rosas e da antes cristalizada mesa de jantar, uma maçã vermelha toma a frente todos aqueles desejos.
Desejos criados e sentidos por ambos, enquanto sua mão descia pela minha cintura à medida que a musica ia ficando cada vez mais longe. 23:59; um misto de romantismo e ironia brotavam daqueles sorrisos mascarados.



Priscila Rodrigues de Oliveira, 24 de abril de 2009

∂єѕαмσя αмαитє

Vermelho
Das toalhas manchadas,
Dos copos virados,
Bagunça.
Vermelho sangue,
Das vidas opostas,
Das rosas desfloradas
Do rastro de lagrimas
Dos amantes, não mais enamorados, liberdade
Dos ainda enamorados, o vermelho
Dos sentimentos vazios,
Dos sonhos ensangüentados.
Separação,
Doce vermelho da dor.
Priscila Rodrigues de Oliveira, 23 de abril de 2009

υℓтιмαѕ ραℓανяαѕ

“Vamos pai! Mais rápido! Quero encostar nas nuvens.”
O sol estava tão quente que poderia queimar ate um cubo de gelo. Todavia, quando me adentrei naquele parque, alem de tropeçar na calçada; reparei e fiquei nostálgica com aquela cena. Vamos ver se consigo descrevê-la:
Um pai aparentemente jovem, claro poderia já não ser tão jovem, mas que parecia isso eu não poderia negar; empurrava lentamente o balanço onde uma garotinha estava sentada.
Aquela cena era tão familiar pra mim, há alguns anos atrás era eu quem estava naquele balanço com o meu pai. Estamos brigados durante dois meses, e não nos falamos durante esse mesmo tempo.
Os dois, pai e filha, já estavam na grama; Ele, arrumando a toalha do piquenique, e ela correndo com uma coisa na mão, não consegui identificar, ate o momento em que ela tirou um palitinho e assoprou no mesmo.
Formas perfeitas, se não soubesse diria que haviam sido feita por algum mestre no assunto, e mesmo se soubesse já que eu não entendo nada de bolhas de sabão, afinal as minhas sempre estouravam no meu rosto fazendo arder meus olhos. Em pouco tempo todo o alcance de minha visão estava completamente lotado dessas bolinhas, as mais lindas conseguiam ficar bem enfrente ao sol e quando estouravam o brilho era inacreditável.
Distrai-me, confesso, ver tudo aquilo me fazia querer chorar.
A menina veio ate mim pedindo-me para assoprar um pouco para que ela pudesse pular e estourar. Ficamos um bom tempo ali, minhas bolhas patéticas e o sorriso dela quando uma delas estourava no meu rosto. Ate que seu pai nos chamou para comer.
“Não obrigada, acho que tenho que ir jogar xadrez com um velho amigo”
Mentira, meu pai odeia xadrez, porém ama filmes de luta. Eu odeio ver tanto sangue falso sair daqueles atores, mas definitivamente precisava falar com meu pai.
Como deixei tanto tempo passar? Tanto tempo perdido, por besteiras, brigas infantis. Bem pai, quando fui naquele dia na nossa casa a mãe estava chorando, ela correu ate mim e disse que perderíamos o senhor, que seu coração já não era o mesmo e que não haviam encontrado doador algum.
Senti minhas forças fugirem de mim; eu estava ignorando ligações daqui de casa durante esses últimos meses, e agora, o senhor iria morrer. Sai desnorteada pelas ruas de fronte a nossa casa, não reparei que estava vindo um caminhão.
Os dias que se seguiram foram os piores de toda a minha vida, pai. Não pelo estado em que eu fiquei, mas por não poder me levantar nem mexer um dedo para ir ate o senhor. Perdoe-me, sei que fui uma filha sem muito do que se orgulhar, mas me orgulho disso que fiz. O médico avisou-me que eu iria morrer em alguns meses. Nunca vi a mãe daquele jeito, iria perder nos dois, então espero que entendam que isso foi a melhor decisão.
Não cheguei a vê-lo bem, e muito menos vendo aqueles malditos filmes que me deixavam com ânsia, mas quero que saibas que o que fiz foi por que o amo pai, e amo a mãe também.
Não quero que vocês chorem agora, eu já tomei essa decisão e a fiz, lembrem-se mim como aquelas bolhas de sabão que fazíamos naquele parque.
Eu te amo, não se esqueça.
Adeus querido pai.

Priscila Rodrigues de Oliveira, 21 de abril de 2009

¢αиçãσ ραяα αℓgυєм

E o vento – e apenas ele-
Contemplava o choro de um violão,
Notas flébeis e desfolhadas. O que fará coração?
Natureza já adocicada,
Triste clima de outono.
Chovia leve, pétalas e folhas,
Criando uma aura em torno de ti,
Oh! Doce apaixonado! ...
O sol já te cobria a face,
A penumbra escondia seus olhos; e suas notas,
Como navalhas, decepavam uma a uma as folhas de um ipê.
Conseguiras fazer chorar esse podre violão eternamente?
O gélido inverno já te arrepiava o coração,
Sentia seus dedos frios libertarem aquelas notas ainda flébeis.
Oh! Amor, como és tão cego,
Amas ainda com os olhos cobertos.
Priscila Rodrigues de Oliveira, 16 de abril de 2009

нσנє, ѕєм тєχтσ мєυ

"Floriram por engano as rosas bravas
No inverno: veio o vento desfolhá-las...
Em que cismas, meu bem? Porque me calas
as vozes com que há pouco me enganavas?
Castelos doidos! Tão cedo caístes!...
Onde vamos, alheio o pensamento,
De mãos dadas? Teus olhos, que um momento
Perscrutaram nos meus, como vão tristes!
E sobre nós cai nupcial a neve,
Surda, em triunfo, pétalas, de leve
Juncando o chão, na acrópole de gelos...
Em redor do teu vulto é como um véu!
Quem as esparze - quanta flor! -do céu,
Sobre nós dois, sobre os nossos cabelos? "
Camilo Pessanha (1867 - 1926)

Aula de literatura: clima chato com "zumzumzuns" de alunos desinteressados. Em certos momentos eu era um deles, mas me interessei pela vida de Camilo...

Camilo de Almeida Pessanha, bem ja que vou ter que fazer a prova do vestibular, por que não ler suas obras. Como grande parte dos poetas daquela epoca, ele morreu de tuberculose, nossa! porque todos morriam de turbeculose? Colocar sangue pela boca não me parece nada romantico.

-Jô! ele era casado? Indaguei.

- ts ts ts

É, um poeta solitario, provavelmente não leria nenhum poema dele dedicado à alguma senhora Pessanha.

Não vou dar uma aula de Literatura aqui não é. Bem, vou resumir já que ainda não terminei de escrever meu proximo texto.

Escolhi esse poema de Camilo por que simpatizei rapidamente, não sei por quê mas, algo me chamou atenção...

Ah! Em relaçao ao titulo do poema..eu não achei, quer dizer, encontrei como "Floriram por engano as rosas bravas", se estiver errado por favor, corrijam-me.

Todavia, ele foi publicado na obra mais famosa de Camilo, Clepsydra.

Agora, vou terminar o texto que estava escrevendo, amanha o posto aqui. Ou hoje a noite, se der tempo.

вℓσσ∂

Naquela cidade nada real, tudo era impossível, inacreditável...
O vermelho pingava exageradamente sobre aquela relva escura e suja, o jardineiro já fora morto mês passado.
Só se ouvia gemidos de dor, de sofrimento, mas de que adiantaria, querida?
Era tão obvio, você seria morta. Mais uma da interminável lista daquele mercenário. Então não grite, mocinha, sorria; Morra feliz ao menos.
O Sorriso do assassino brilhava, como uma estrela em um céu impecável. Suas mãos abaixavam aos poucos, e aquele dementador fumaçava ...
Mocinha, deite-se e o deixe levar sua alma. A palidez esta imperando, você não vê? Irá morrer como todos os outros, afinal seu sangue já cobriu sua blusa inteira. Olhando pra você recordo minha infância, nesse momento a historinha da Branca de neve não sai de minha mente. “e o vermelho se destacava na neve branca”
Com passos contados, e friamente calculados, ele se aproxima e te olha nos olhos. “Irá demorar muito?”. Você cai, chora, ele sorri. Que sarcasmo exagerado!
Não lhe disse, mocinha? Morreu como todos. Seu sangue sujou aquele já imundo jardim, me diga agora, quem vai limpar isso?
Mas que cidade surreal, o mercenário agora aponta pra sua cabeça. Será que morrer também?
Nossa! Que estrondo, nem os pássaros agüentaram ficar naquele cemitério!
Bem, eu avisei...
Risos.
Adeus, Romeu e Julieta.

Priscila Rodrigues de Oliveira, 14 de abril de 2009

αρєиαѕ мαιѕ υмα нιѕтσяια ∂є тєαтяσ

Ela sorria e o olhava, enquanto ele dedilhava naquelas teclas endurecidas de um piano de séculos atrás, a melodia mais doce do mundo, a melodia que a fazia chorar – deveria pelo menos.
Aquele som ecoava pelo salão antigo, onde somente os dois e aquele velho piano se encontravam, e por um pequeno vidro no canto esquerdo apenas um feixe de luz fugia do exterior e incidia em uma, ainda viva, flor sob o piano.
Todavia o rosto do pianista apaixonado se enrijeceu; seus dedos, que antes tocavam, foram usados para derrubar aquela flor. E com um gesto rude e triste abaixou a tampa e retirou-se.
Ela, ainda encostada no piano, deixava cair inúmeras lagrimas que faziam seus olhos, antes cor de mel, avermelharem-se.
Junto com a luz se esvaecendo, as cortinas caiam. Fim do espetáculo.
Será mesmo? Abrindo uma brecha nas cortinas cor de ruby, um homem de terno escuro dirigiu-se a ela – é, era apenas uma solidão ilusória. Ambos estão encostados agora no piano, ela ainda chorando e ele com a mão estendida, e sob a mesma um lenço de renda branco.
E isso, leitor, foi apenas o que eu vi naquele fim de tarde em uma sala de audições esquecida.
Priscila Rodrigues de Oliveira, 10 de abril de 2009

¢нá ∂αѕ ¢ιи¢σ


Porcelas riscadas e extremamente limpas,
arranhar de um pires.
Tic Tac.
Poltronas de outrora,onde um gato gordo e nostalgico estira-se.
Tic tac.
Olhos travados numa superficie transparente.
expectativa.
Tic tac.
cinco horas.
Os Ingleses são realmente tão previsiveis?
Ora ora, maldito chá das cinco.

qυαи∂σ νσ¢ê ναι ємвσяα

E ela fora estendida na estante, e arrumada como que se lá fosse ficar eternamente.Ela já previa onde tudo isso terminaria, onde pararia; já que mesmo aquela boca, teimosamente dizendo que a amava, mesmo andando de mãos dadas, sorrindo com ela, dividindo momentos, seria apenas uma fase, algo momentaneo. Todavia, não para ela.
Que boneca burra e masoquista!* Teima em amar alguem que nunca sera seu.
E tudo fica assim, ela na estante amarrada num fio de esperança, como uma marionete com vida. E o pó, acumulado em seu vestido, brilha sempre que o sol, timidamente, a tenta ofuscar.

"Como um brinquedo velho" - diz me ele.
"Sim, meu caro, como mais um brinquedo empoeirado naquela estante" - lhe respondo.



*frase baseada em "crepusculo".

мαιѕ υм ∂ια...


Os primeiros raios de sol incidem naquele penhasco, no qual eu estou de pé, sozinha. Respiro calmamente agora, estou a poucos passos, minha tentação. Minutos, horas, por que acabar com tudo agora?
Quando eu estava naquela estrada à meia noite, só pensava em um caminho, e o seguia. Quando vi aquela placa “Não ultrapasse”, minha vida se estagnou, para onde iria?
Oh Deus! As folhas do meu Outono já não vejo brilhar, não sei por onde seguir, por onde andar...acho que não sei amar.Deus me diga, por favor, adiantou quebrar minha barreira?
Esse maldito penhasco me parece agora à oferta mais generosa, mas por que acabar com tudo isso agora?
Querido Deus, já vejo a noite cair, atiro-me?
Desculpe, eu não posso, desisto. Adiantou quebrar nossa barreira, afinal?
Enfim,
sento na beira desse penhasco, e choro enquanto vejo as estrelas brilharem só pra mim.

αqυєℓα gαяσтιинα


A manha estava fria, propicia para um futuro resfriado, mas era de se esperar depois de uma nevasca. Todavia um pequeno grupo trabalhava animado retirando a neve de fronte as suas casas.
Não tardei muito para levantar, tomei a mão meu casaco e desci as escadas preguiçosamente, definitivamente aquele frio afetou-me. Por sorte era feriado, tratei de engolir rápido aquela fatia de bolo que minha mãe fizera na noite anterior, para fazer minha rotina de feriado: andar sozinha por ai com meus fones. Porem algo me dizia que aquele feriado de inverno não seria um feriado comum.
Calcei minhas botas brancas, que em conjunto com minha roupa, me fazia passar por um poodle naquela paisagem. Caminhei pelo que antes era o parque mais dourado que havia visto – graças ao outono, particularmente a época que mais gosto.
Fui seguindo a trilha que já gravara há anos e me deparei com uma garotinha, chorando embaixo de minha árvore favorita. Tomei a liberdade e sentei-me ao seu lado e a fiz inibir o choro, desculpei me, ela olhou me com os olhos vermelhos e me perguntou:”Você gostaria de ser livre?”.Assustada, respondi afirmativamente.Nesse instante ela sorriu e disse:”A liberdade todos têm, o que a prende é o quanto você é capaz de sonhar e de sofrer por algo que acredita”.
Dito isso, ela entregou-me um broto de rosa vermelha banhado com suas lagrimas antigas. A fração de segundos, que retirei os olhos dela, a fez sumir. Olhei de volta para o broto e sob ele uma borboleta dourada com pequenos flocos brancos encarava-me atentamente. O broto em minha mão secava aos poucos e com isso ia desabrochando. Não demorou muito, o broto já era rosa e de dentro dele uma ultima gota de lagrima correu das pétalas a neve e aquela borboleta seguiu rumo ao sol.
Fiquei meia hora vidrada naquela rosa, que se destacava em meio ao branco gélido do inverno, tentando acreditar naquilo.
Nossa, que dia! Cuidei de ajuntar meus fones e tomar o rumo de casa. Refleti enquanto afundava minhas botas na neve fofa. Chegando a casa as tirei e olhei novamente para a rosa, sorri.
Hoje costumo dizer que a garotinha da neve, com uma rosa, ensinou-me que não há felicidade sem dor, e o que afasta seus sonhos da realidade é o quanto você pode aguentar sofrer por eles sem deixar de acreditar nos mesmos.

ραℓнαçσѕ

Um feixe invade aquele pequeno trailer, apertado e incomodo, e acorda aquele homem, era visível a dor em seu rosto. De que mal sofria?
Ele se levanta arrastado, negando a vida. Começa seu dia.
Pega o branco e joga na tela, tanto branco que não se via a dor, exceto nos lábios. Pincel, mergulha e suja de vermelho sangue, desenha falsamente um sorriso, e como que recordando a dor faz um pingo singelo abaixo do olho esquerdo, uma lagrima, parecia feliz agora.Ele sai, quer alegrar alguém com sua felicidade falsa?
Você é capaz de fazer de seu rosto uma tela para uma pintura falsa?Estamos cercados de telas, de mentiras e de sorrisos dolorosos. No fim do dia os rostos são lavados para um novo sorriso no dia seguinte.

συтσиσ


Outono,
Onde os sentimentos mudam,
As árvores mudam,
E eu me lembro,
Aquelas folhas douradas escondendo uma relva verde, cintilante.
Sim, eu me lembro,
As crianças sorriam,
E você estava ali,
As folhas caiam,
Brilhavam, e você sorria.
Outono,
Fim de tarde,
Tudo virou sussurro,
Aquelas mesmas folhas, caídas,
O sol se pondo, era outono,
E você estava ali.
As folhas nunca perderam tanto brilho em meus olhos quanto naquele momento.
O momento que te vi.
Era outono,
A estação onde os sentimentos mudam,
Menos os meus...

мαѕ υм ¢σитσ, єм αρєиαѕ υмα иσιтє...





Dois corpos imóveis, encarando-se, pensamentos voltados para o que?
Um quê de mistério, enigma, eles aproximam-se. Chove, e a cada segundo, a cada milésimo o intervalo das respirações era reduzido, a chuva aumentava. E eles, cada vez mais próximos.
Suas roupas já pingavam mais que a própria chuva, as sombras de ambos iam sumindo aos poucos enquanto a noite roubava a noite cada vez mais.
A rua esta perceptivelmente deserta, somente eles naquele lugar, e para eles, somente eles em todo o mundo. Sim, o amor; ali presente; era sincero, verdadeiro.
Acabaram com o tempo, naquele momento, selaram as almas; agora não mais “as” e sim “a”. Esse momento carece de explicação?
Eles se amam nessa vida, e amar-se-iam em outras também.

му fαιяу тαℓє



Demasiadamente verde, era a descrição perfeita para aquele jardim. Era fácil caminhar por ali, era familiar. Aquela atmosfera era impecável e extremamente mágica, podíamos ver a cor do vento contornando-nos. Eu podia sorrir ali.
Já caminhava fazia horas, quando senti aquele frio e, passei a não enxergar mais aquele lindo jardim, estava tudo escuro, eu já não sorria, chorava.
Minha mente transportou-se, momentaneamente, para um dia qualquer em um circo comum, onde palhaços choram por trás de um sorriso pintado.
Sei que preciso de ajuda, mas digo-lhe, não preocupe-se meu amor, estou bem.
Estou em um paraíso proibido, trancada nele. Preciso de um tempo no escuro para fazer minha própria luz e poder enxergar aquele jardim, novamente. Sorrir de verdade e te dizer com sinceridade: ”Eu te amo, queres casar comigo?”