υℓтιмαѕ ραℓανяαѕ

“Vamos pai! Mais rápido! Quero encostar nas nuvens.”
O sol estava tão quente que poderia queimar ate um cubo de gelo. Todavia, quando me adentrei naquele parque, alem de tropeçar na calçada; reparei e fiquei nostálgica com aquela cena. Vamos ver se consigo descrevê-la:
Um pai aparentemente jovem, claro poderia já não ser tão jovem, mas que parecia isso eu não poderia negar; empurrava lentamente o balanço onde uma garotinha estava sentada.
Aquela cena era tão familiar pra mim, há alguns anos atrás era eu quem estava naquele balanço com o meu pai. Estamos brigados durante dois meses, e não nos falamos durante esse mesmo tempo.
Os dois, pai e filha, já estavam na grama; Ele, arrumando a toalha do piquenique, e ela correndo com uma coisa na mão, não consegui identificar, ate o momento em que ela tirou um palitinho e assoprou no mesmo.
Formas perfeitas, se não soubesse diria que haviam sido feita por algum mestre no assunto, e mesmo se soubesse já que eu não entendo nada de bolhas de sabão, afinal as minhas sempre estouravam no meu rosto fazendo arder meus olhos. Em pouco tempo todo o alcance de minha visão estava completamente lotado dessas bolinhas, as mais lindas conseguiam ficar bem enfrente ao sol e quando estouravam o brilho era inacreditável.
Distrai-me, confesso, ver tudo aquilo me fazia querer chorar.
A menina veio ate mim pedindo-me para assoprar um pouco para que ela pudesse pular e estourar. Ficamos um bom tempo ali, minhas bolhas patéticas e o sorriso dela quando uma delas estourava no meu rosto. Ate que seu pai nos chamou para comer.
“Não obrigada, acho que tenho que ir jogar xadrez com um velho amigo”
Mentira, meu pai odeia xadrez, porém ama filmes de luta. Eu odeio ver tanto sangue falso sair daqueles atores, mas definitivamente precisava falar com meu pai.
Como deixei tanto tempo passar? Tanto tempo perdido, por besteiras, brigas infantis. Bem pai, quando fui naquele dia na nossa casa a mãe estava chorando, ela correu ate mim e disse que perderíamos o senhor, que seu coração já não era o mesmo e que não haviam encontrado doador algum.
Senti minhas forças fugirem de mim; eu estava ignorando ligações daqui de casa durante esses últimos meses, e agora, o senhor iria morrer. Sai desnorteada pelas ruas de fronte a nossa casa, não reparei que estava vindo um caminhão.
Os dias que se seguiram foram os piores de toda a minha vida, pai. Não pelo estado em que eu fiquei, mas por não poder me levantar nem mexer um dedo para ir ate o senhor. Perdoe-me, sei que fui uma filha sem muito do que se orgulhar, mas me orgulho disso que fiz. O médico avisou-me que eu iria morrer em alguns meses. Nunca vi a mãe daquele jeito, iria perder nos dois, então espero que entendam que isso foi a melhor decisão.
Não cheguei a vê-lo bem, e muito menos vendo aqueles malditos filmes que me deixavam com ânsia, mas quero que saibas que o que fiz foi por que o amo pai, e amo a mãe também.
Não quero que vocês chorem agora, eu já tomei essa decisão e a fiz, lembrem-se mim como aquelas bolhas de sabão que fazíamos naquele parque.
Eu te amo, não se esqueça.
Adeus querido pai.

Priscila Rodrigues de Oliveira, 21 de abril de 2009

4 lembretes:

Unknown disse...

poxa..prih .. esse texto mecomoveu.. serio mesmo..

Sunshinee disse...

comovente msm :')

Steferson Z. Roseiro disse...

ao menos alguém consegue se despedir...
pena que eu não tive essa sorte toda =)

...

Diogo Nascimento Gonçalves disse...

sem palavras pra esse texto..